Todas as Coincidências com a realidade são pura verdade!

terça-feira, abril 25, 2006

Vício

És um vício. Um vício que me é impossível colmatar, satisfazer, minimizar.. Um vício que apesar de não me levar à morte arrasta-me na sua fronteira, me faz olhar de frente para ela, bem nos olhos, compreendendo que ela tem um olhar de misericórdia, de compreensão e entendimento como ninguém possui. És o meu vício, e quero largar-te. Mas se te largar deixo de ter o vício que me faz acordar, deixo de ter a desculpa para me levantar, deixo de ter a motivação para andar, deixo de ter a adrenalina para correr, deixo de ter a inspiração para falar, no entanto quero largar-te.
Quero voltar ao vazio, aos dias fúteis e banais, em que a disposição ao deitar é a mesma ao acordar. Posso ficar pior sem ti, mas também não estou melhor contigo. És um vício. Tão perto mas ao mesmo tempo tão longe, a anos-luz de distância. E estares aqui mesmo ao pé e não poder satisfazer o vício... Os alcoólicos podem beber, os toxicodependentes aceder à sua dose, os jogadores fazerem a sua aposta e eu, privado de colmatar o meu vício, agonio.

Diferença

"Aquilo que, creio, produz em mim o sentimento profundo, em que vivo, de incongruência com os outros, é que a maioria pensa com a sensibilidade, e eu sinto com o pensamento.
Para o homem vulgar, sentir é viver e pensar é saber viver. Para mim, pensar é viver e sentir não é mais que o alimento de pensar.
É curioso que, sendo escassa a minha capacidade de entusiasmo, ela é naturalmente mais solicitada pelos que se me opõem em temperamento do que pelos que são da minha espécie espiritual.(...)
Quanto mais diferente de mim alguém é, mais real me parece, porque menos depende da minha subjectividade. E é por isso que o meu estudo atento e constante é essa mesma humanidade vulgar que repugno e de quem disto. Amo-a porque a odeio. Gosto de vê-la porque detesto senti-la. A paisagem, tão admirável como quadro, é em geral incómoda como leito."

Fernando Pessoa - O livro do desassossego

É incrível o quanto me revejo e identifico com a escrita de Fernando Pessoa (modéstia à parte), sendo este livro de uma clarividência e sobriedade fantásticas. Um acordar claro para o mundo. A visão do mundo de uma perspectiva que todos os seres humanos deveriam, no mínimo, ler e ter conhecimento. Algumas mentes iriam-se expandir, alguns olhos iriam-se abrir... e algumas mentalidades provavelmente modificar-se-iam...e precisamos tanto de outras mentalidades neste mundo, neste país, nesta vida..oh o quanto precisamos...


quarta-feira, abril 19, 2006

Dilema

Existem dilemas que nos deixam atónitos, que nos colocam entre o ser ou não ser, entre o agir ou submergir na apatia. Se por um lado nos fornecem prazer imediato, apesar de ilusório, por outro são predisponentes de consequências altamente desagradáveis que nos irão fazer arrepender de ter agido... Mas foi tão bom enquanto durou, não foi? É tão bom estar iludido, a ilusão é a fonte primária de toda a felicidade, assim como a ignorância, quanto menos saberemos mais probabilidades de estarmos felizes teremos. Não sei logo não me afecta, não sei logo não me preocupa. É tão bom desconhecer, estamos livres de inquietações, livres de perguntas, limpos de dúvidas, e possuímos uma inocência ingénua que nos dá uma felicidade momentânea. Mas logo eu tenho de questionar, criticar, ponderar as consequências a médio ou longo prazo. Sendo assim há sempre algo que me preocupa, que me atormenta, que me afecta, sempre algo que não me deixa dormir em condições, há sempre algo... algo capaz de me levar ao fundo quando se pensava que não se podia descer mais, há sempre algo... Invejo - ou não invejo - os apáticos, os ignorantes, porque eles não têm nem terão alguma vez consciência que estão vivos, portanto nem chegam a morrer, são uma nulidade na existência mundana desde o seu nascimento até à morte, morte essa que já os atingiu sem terem conhecimento de tal, que os atingiu no preciso momento em que perderam o interesse de saber mais...mas se não sabem mais não têm estes dilemas, tudo isto por causa de um dilema..um dilema de difícil resolução...porque há sempre algo...sempre..

1...2....3...4...5...........38...39....40.........1...2....3....4...5

De 40 em 40 segundos uma pessoa suicida-se no mundo.
Antes de ter fechado esta página outra pessoa acabou com a sua própria vida.
Dá que pensar?

Uma casa


Uma casa. Uma simples casa

Ao se observar esta casa diferenciar-se-iam visões e interpretações consoante o indivíduo:

Um engenheiro civil : apreciaria a construção da casa, interrogar-se-ia acerca dos seus alicerces, o tipo de materiais usados.
Um advogado: questionar-se-ia sobre a legalidade do terreno em que esta se encontra assim como a situação legal que abrange os proprietários.
Um designer: apreciaria o estilo da casa, o quão integradas estariam as linhas orientadoras paisagísticas com as próprias características do imóvel.
Um vendedor de imobiliária: faria uma estimativa do preço da casa tendo em conta todo um conjunto de vantagens e desvantagens intrínsecas e extrínsecas à própria casa.
Um técnico estatístico: quantas pessoas habitariam nesta casa? quantos metros quadrados possuía? qual seria o seu rendimento anual? estaria abaixo ou cima da média nacional?
Um bombeiro: estaria esta casa a cumprir as normas básicas de segurança? Haveria acessibilidade para ferramentas de combate ao fogo? a que distância se encontra a fonte de água mais próxima?

Toda uma infinidade de profissões poderia ser descrita e numa coisa todas estariam em comum: diferença.
Os indivíduos interpretam tudo o que vêm, e recepcionam, consoante a sua formação académica e pessoal. Os acontecimentos de vida marcam, nem que seja de forma suave, as nossas crenças, os nossos esquemas, os nossos processamentos cognitivos assim como a maneira como lidamos com tudo o que connosco se nos depara.
Sendo assim não será que podemos questionar até que ponto uma realidade ou verdade existe? Não será apenas uma interpretação de factos? Uma interpretação que tende a oscilar de indivíduo para indivíduo? Não será a "realidade" apenas uma conformação maioritária das pessoas à interpretação de um indivíduo?

South Park

Eu em versão South Park :D


Façam o vosso aqui

terça-feira, abril 18, 2006

pUe.tSr.óAleo

Novo máximo do barril de Brent - 72 Doláres
Não há muito tempo, por volta do quase-ínicio da guerra do Iraque este número figurava nos 28 dólares (um recorde já na altura). Coincidências?

Deixo-vos uns pequenos gráficos:

Mapa de consumo de petróleo no Mundo: (quanto mais escuro maior consumo)


Ou então ainda mais claro:
Taxas de consumo de petróleo no Mundo


Próxima vítima --> Irão - 2º Maior produtor de petróleo do Mundo da OPEC (Organização de produtores exportadores).

E eles continuam, impávidos e serenos, a sugar o petróleo, destruindo culturas, arranjando desculpas, bombardeando civis, e continuam, ilesos e calmos, com um sentimento de impunidade exacerbado pela ineficácia e acomodação dos que assistem.

Ei-los que continuam...

Faço minhas as tuas palavras

Que me pesa que ninguém leia o que escrevo? Escrevo-o para me distrair de viver, e publico-o porque o jogo tem essa regra. Se amanhã se perdessem todos os meus escritos, teria pena, mas, creio bem, não com pena violenta e louca como seria de supor, pois que em tudo ia toda a minha vida. Não é outra, pois, que a mãe, morto o filho, meses depois estar aí [?] e é a mesma. A grande terra que serve os mortos serviria, menos maternalmente, esses papéis. Tudo não importa e creio bem que houve quem visse a vida sem uma grande paciência para essa criança acordada e com grande desejo do sossego de quando ela, enfim, se tenha ido deitar.


Fernando Pessoa - Livro do Desassossego - Compilação de textos brutalíssima

Comentários

Peço desculpa às pessoas que comentaram no sistema anterior mas vou passar a usar o fornecido pelo blogger. Contudo esses comentários encontram-se guardados por isso não me precisam de insultar pela falta de consideração.

Simplificação do Site

Porque, tal como na sociedade, a aparência é o elemento fútil que satisfaz os olhos e ilude o pensamento racional.

Há criaturas que sofrem realmente,
Há dias em que cada pessoa,
Há em Lisboa um pequeno número,
Há mágoas intimas que não sabemos,
Há momentos em que tudo cansa,
Há muito - não sei se há dias,
Há muito tempo que não escrevo,
Há quanto tempo não escrevo!,
Há sensações que são sonos,
Há sossegos do campo na cidade,
Há um cansaço da inteligência abstracta,
Há um grande cansaço na alma,
Há um sono da atenção voluntária,
Há uma erudição do conhecimento,
Há uma técnica do sonho,
Haja ou não deuses,
Hoje, como me oprimisse a sensação,
Hoje, em um dos devaneios...


Fernando Pessoa - Livro do desassossego